E por falar na Escola Adães Bermudes aqui fica um resumo da história destas escolas.
No início de 1898, a influência daquilo que se vai fazendo na Europa vai ganhando corpo, e a Associação dos Engenheiros Portugueses elabora um "programa de concurso para apresentação de projectos de edifícios destinados a escolas de instrução primária" que entrega ao Ministério das Obras Públicas. Em Março do mesmo ano, é aberto concurso oficial, determinando-se um prazo de seis meses para a apresentação de projectos, estabelecendo o programa preliminar que estes deveriam contemplar várias áreas: vestiário, uma ou mais salas de aula, pátio com recreio coberto, habitação do professor, retretes e urinóis. Era ainda exigido que as dimensões contemplassem espaço para um máximo de 50 alunos por sala, na razão de 1,25 m2 por aluno, pé-direito de 4 a 4,5m, pavimentos de madeira elevados a 1,5m acima do terreno exterior. A iluminação natural deveria ser feita através de janelas rectangulares e jamais pelo tecto. Era ainda recomendado que os materiais envolvidos, bem como as técnicas na construção dos edifícios, tivessem em conta a realidade natural da região onde a escola iria ser implementada.
Adães Bermudes, um arquitecto diplomado pela Academia Portuense de Belas-Artes e pela Escola de Belas-Artes de Paris, vastamente premiado em concursos nacionais, e que trabalhava, desde 1897, na Direcção Especial de Edifícios Públicos e Faróis, do Ministério das Obras Públicas, concebeu, desenhou e construiu alguns dos melhores exemplares de edifício escolar do início de século. Por todo o País, as chamadas "escolas Adães Bermudes" testemunham aquilo que de mais consistente, belo e lógico existe, em termos de equipamentos escolares, no início do século XX. Espalhadas por todo o País, é também exemplo do seu talento e da sua competência a Escola de Alcobaça.
A partir de 1910, com a implantação da República, a responsabilidade pelas instalações escolares do ensino primário passa a pertencer às câmaras municipais, o que permitiu uma verdadeira descentralização e um incremento local no surgimento de muitas novas escolas. É ainda criada uma comissão, para a qual são nomeados Adães Bermudes, Sebastião da Costa Sacadura (médico inspector de sanidade escolar) e o professor Arlindo Varela, destinada a fixar as normas técnicas, higiénicas e pedagógicos dos novos edifícios escolares. A composição desta comissão fala por si, ou seja, denota a preocupação do governo de então em estabelecer regras e princípios não só arquitectónicos, como também de higiene e pedagógicas, numa verdadeira articulação complementar e que daria origem à elaboração de um projecto-tipo, contemplando estas diferentes vertentes, da autoria de Adães Bermudes. Na verdade, estas escolas, que durante mais de uma década se foram construindo em todo o País, podem ser consideradas precursoras da escola moderna.
Durante os primeiros anos do Estado Novo, as construções escolares regionalizam-se, obedecendo a regras próprias segundo a zona em que são construídas, e entre 1933 e 1935, os arquitectos Rogério de Azevedo e Raul Lino dividem entre si os projectos, ficando o primeiro com as regiões Norte e Centro, e o segundo com o Sul, trabalhando directamente, em regime de contratação, com o Ministério das Obras Públicas.
Esta regra regional iria manter-se até aos anos 50, obedecendo, embora, durante os anos 40, a uma nova estética e a uma dimensão que a década seguinte iria revelar aquém das necessidades, obrigando a obras de ampliação, um pouco por todo o País.
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