Para laborar as safras do Olival do Santíssimo Sacramento, olival que segundo os louvados possuía entre dezassete a dezoito mil pés de árvore, os monges brancos de Alcobaça mandaram edificar um majestoso lagar nas imediações da Lagoa Ruiva, no lugar da Ataíja de Cima (S. Vicente de Aljubarrota). Esta unidade proto-industrial, construída, provavelmente, entre os anos quarenta e sessenta do séc. XVIII, manteve-se em funcionamento até à segunda década do séc. XX.
O lagar dos frades, como é, ainda hoje, conhecido, está dentro de uma quinta murada, denominada de Cerca. Este murado apresenta uma altura que varia entre os 2,60 m e os 2,80 m, estando as pedras ligadas por uma argamassa de barro e cal (nas imediações desta propriedade ainda restam vestígios do antigo forno de cal parda) a que se acrescentava, para impermeabilizar o aparelho, barras de azeite.
Lagar dos Frades de Ataíja de Cima
Joaquim Vieira Natividade descreve-nos este edifício com o olhar de quem o viu em laboração: "Dentro de uma cerca, na vizinhança da Lagoa Ruiva, erguia-se a vasta edificação com ampla alpendrada, e em cujas paredes se abriam graciosamente, os nichos do pombal. Oito varas gigantescas, quatro de cada lado, peso contra peso ocupavam o primeiro compartimento (21.80 x 11.10 m).
Seguia-se-lhe a casa dos moinhos (35.5 x 9.5m) [ eram dois, os moinhos tocados a sangue por juntas de bois, com três galgas cada] com as tulhas para azeitona, numerosas mas de pequenas dimensões, em parte embebidas nas grossas paredes. Os estábulos ocupavam outro compartimento separado. Junto ao lagar, e voltada a nascente, levantava-se a residência do frade lagareiro, na fachada da qual ainda hoje se vêem as armas do Mosteiro, de curioso desenho. No rés-do-chão deste corpo guardava-se o azeite em grandes pias de pedra" (obras várias, vol. VI, pg. 70).
Deste imóvel apenas hoje resta a casa do monge lagareiro em acentuado estado de ruína e a cerca, cujo portal foi, parcialmente, derrubado há pouco tempo. A fachada posterior ainda mantém as "virgens" (esteios de pedra que guarnecem e amparam o "coice de vara"). Algumas galgas e um peso de vara abandonados no terreno, são os últimos testemunhos silenciosos do funcionamento desta unidade senhorial. A Lagoa Ruiva que fornecia a água para os trabalhos do lagar (escalda da massa de azeitona, etc.) foi entulhada e aloja o campo de futebol local.
Com o desaparecimento, a curto prazo, deste prédio rústico (embora já classificado, a ruína total é eminente), Alcobaça perde um documento único de leitura do seu passado e o mosteiro em particular, fica mais pobre.
Artigo de António Maduro, publicado no "Tinta Fresca" em Dezembro de 2000.
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