sexta-feira, 20 de agosto de 2004

São Bernardo

Hoje, dia 20 de Agosto e nosso feriado municipal, é comemorada a festa de São Bernardo de Claraval, padroeiro da nossa cidade. Considerei assim importante publicar uma pequena biografia do grande Santo da Ordem Cisterciense.

Bernardo nasceu em 1090, e em 1110 demonstrou pela primeira vez a vontade de entrar em Cîteaux, projecto que realizou em 1113, chegando ao mosteiro com trinta companheiros. O abade Estêvão Harding acolheu com alegria este grupo e soube discernir a riqueza da personalidade de Bernardo, ainda que, sob muitos aspectos, se tenha descoberto entre eles uma notável diferença de temperamento. Numa primeira abordagem desta diferença, podemos notar que enquanto para Estêvão valorizava a ordem do visível, das artes plásticas (como demonstram os manuscritos), para Bernardo a importância está mais no ouvido e na voz, na música, na escuta, essencialmente escuta da Palavra de Deus, a escuta do Verbo de Deus que se dirige ao monge, ao qual não é permitido distrair-se.Bernardo constrói sobre os ideais e sobre os fundamentos essenciais dados por Estêvão: fidelidade à Regra, simplicidade, pobreza e, sobretudo, a caridade.Seguindo o seu exemplo, de modo especial no que diz respeito à pobreza, os cistercienses estabeleceram-se em "desertos", onde realizaram um duro trabalho manual, suficiente para o seu sustento e que permitiu também vir ao encontro dos necessitados. Rejeitaram o sistema social da época, renunciaram aos dízimos e feudos que vinham daqueles que tinham autoridade feudal e, do mesmo modo, não aceitaram os "benefícios" que poderiam ser propostos pelos homens da Igreja. Com a ideia da igualdade, no mosteiro, deixou-se de fazer caso da origem social dos monges; todos viviam do mesmo modo. No que diz respeito ao abade, nomeadamente o abade de Cîteaux, encontravam-se todos no Capítulo Geral no mesmo nível. A simplicidade de vida aparece nos hábitos, nas construções realizadas com linhas geométricas "limpas", vazias e sem decorações. A espiritualidade não estava dirigida a uma elite, mas a seres humanos de carne, com desejo de se converterem.
O prestígio pessoal de Bernardo e o seu poder de persuasão fazem crescer continuamente a sua influência na Ordem, na Igreja e no mundo. Esta influência é exercitada em duas linhas principais: a consolidação da Ordem Cisterciense e a Reforma da Igreja. Em 1115 Bernardo foi enviado com um grupo de monges para fundar Clairvaux, passando toda a sua vida como abade e renunciando a qualquer outra dignidade eclesial.Em 1118 Clairvaux fundou a sua primeira "dependência" e durante trinta anos o ritmo das fundações foi de dois mosteiros por ano, através de toda cristandade ocidental, com excepção da Europa Central. À sua morte, em 1153, a Ordem de Cîteaux contava com 345 mosteiros, dos quais 167 eram filiações de Clairvaux, fundações ou mosteiros que pediram para serem incorporados à Ordem. O ano de 1130 foi uma data chave para a vida de Bernardo, até aí consagrado à vida da sua comunidade e da sua Ordem. Nessa altura entrou de forma activa e decisiva na vida da Igreja, ajudando a resolver situações de crise que derivaram da dúplice eleição de Inocêncio II e de Anacleto II, situação que provocou uma cisma que durou oito anos e que foi ocasião das primeiras viagens de Bernardo à Itália. Em 1140 interviu contra os erros de Abelardo. Em 1145 percorreu o Languedoc para pôr fim aos erros hereges. Em 1147, o Papa Eugénio III, que tinha sido abade cisterciense de Tre Fontane (Roma), deu-lhe a missão de pregar a II Cruzada, considerada um fracasso, e do qual ele se considerou responsável. Em 1150, sob a insistência de Suger, abade de S. Denis, tentou, em vão, convencer Eugénio III a retomar a Cruzada. Na primavera de 1153 iniciou uma última viagem na Lorena, retornando a Clairvaux onde recebeu a notícia da morte de Eugénio III e morreu também ele a 20 de agosto do mesmo ano. Em 1163 o seu culto é introduzido em Clairvaux e em 1174 o Papa Alexandre III canonizou-o.E ste elenco de datas é somente o aspecto externo da vida de Bernardo, pois no mesmo período produziu uma actividade literária considerável (foi o maior escritor do seu tempo) apesar do seu estado de saúde sempre precário em virtude das austeridades que se impuseram.
É impossível, em poucas linhas, focalizar a obra de S. Bernardo e a sua originalidade. Digamos somente que Bernardo, como todos os outros autores cistercienses do seu tempo, cantou o amor, o amor de Deus pelo homem e o amor do homem por Deus. Um amor que é fonte de verdadeiro conhecimento - é sobre este ponto que ele diverge de Abelardo e da teologia escolástica nascente - um amor nupcial entre Deus e aquele, aquela que sabe estar na escuta dele. E é esta mensagem que falou ao coração de tantos homens e mulheres do seu século e povoou numerosos mosteiros.
In www.abadia.org

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