sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

O que é de Alcobaça é bom...

Cooperativa produz
Sumo de maçã de Alcobaça cem por cento natural

A Frubaça, cooperativa que reúne onze médios e grandes produtores de maçã de Alcobaça, tem uma fábrica de transformação que lhe permite apresentar no mercado um produto original - um sumo cem por cento natural feito a partir de maçã fresca, que não precisa de pasteurização.
Pedro Maia, produtor e director da Frubaça, revelou que o sumo tem o certificado de protecção integrada e em breve poderá obter a mesma certificação que a maçã de Alcobaça.
"As maçãs que não entram nos critérios de selecção como produto vendido a ser vendido no mercado em fresco, processamo-las, são lavadas, espremidas e engarrafado o sumo, que leva um tratamento inovador a nível europeu. O sumo é submetido a frio a uma pressão bastante elevada para eliminação dos microorganismos, não é pasteurizado, não leva nem açúcar nem água", indicou, apontando que este ano calcula-se que possam ser produzidos 600 mil litros, à venda numa garrafa criada para o efeito.
Esta é uma das actividades da cooperativa, sedeada em Acipreste, concelho de Alcobaça, a par do embalamento e expedição das maçãs, para as quais conta com cerca de 50 funcionários.
Cada produtor encarrega-se da sua própria exploração, mas conta com o apoio técnico da cooperativa, que dá as directivas e certifica o cumprimento das normas estabelecidas.
O ciclo produtivo começa no Inverno, quando as árvores estão dormentes. Fazem-se as podas e cortes de lenhas nos pomares, que são moídas e incorporadas no próprio solo. Dois técnicos da Frubaça acompanham o processo, assegurando que a totalidade da fruta é produzida em regime de protecção integrada. "Procura-se sempre respeitar o ambiente e deixá-lo actuar, e se houver pragas que não se resolvam, usamos fitofármacos que não deixam resíduos no fruto. As pulverizações e tratamentos semanais não fazem parte deste regime", assegurou Pedro Maia.
A erva nos pomares é cortada com máquinas. São feitas fertilizações consoante as necessidades em termos produtivos. Depois vem a floração, vingamento, mondas manuais e há uma selecção constante até à colheita.
O início da colheita é determinado pelos níveis de açúcar no fruto, com a dureza e com a degradação dos amidos, regulado através de análises.
A cooperativa produz, em média, 6 mil toneladas de maçãs por ano, das quais cerca de 30% são certificadas. A certificação é feita consoante a venda, pelo que nunca há problemas de excedentes.
A Frubaça vende para várias cadeias de supermercados, como Continente, Modelo, Jumbo, El Corte Inglês, entre outros.
A rastreabilidade da origem é uma característica do rigoroso controlo. "Quem compra uma couvette da nossa fruta no supermercado, através dos códigos que são inseridos, sabe quem foi a entidade que embalou o produto, quem foi o produtor e a parcela onde foi produzido, havendo um caderno de registos do que foi feito ao longo do ano, com a data das podas, as adubações, a quantidade de águas administradas nas regas, e outros dados, o que nos permite dar ao consumidor uma garantia de segurança alimentar", manifestou Pedro Maia.
A cooperativa exige também que os produtores, para além do cumprimento das normas de higiene e segurança no trabalho aplicadas no campo, tenham os impostos em dias e escrita organizada, e todos os funcionários no regime da Segurança Social.

"Segurança alimentar e sabor fazem a diferença"
A Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA) foi criada para gerir o processo da Indicação Geográfica Protegida e para orientar uma produção controlada, submetida a parâmetros de qualidade. Jorge Soares, presidente da APMA, faz notar que a organização desenvolve um projecto assente na qualidade visual, sabor, aroma e garantia alimentar da maçã de Alcobaça, combatendo a invasão de fruta estrangeira, que engana os consumidores apenas pela sua aparência.

"Trata-se da única maçã qualificada (Indicação Geográfica Protegida) e representa mais de 50% da produção da região. Existem 700 produtores que cumprem as especificações de produção, acondicionamento e comercialização, encontrando-se outros em fase de adesão. Considerando o preço médio de venda ao público, espera-se este ano um volume de negócios na ordem dos 30 milhões de euros", aponta Jorge Soares.

O que há de diferente na maçã de Alcobaça, que a distinga das outras maçãs? "Principalmente as qualidades internas avaliadas pelo sabor, aroma, suculência e consistência, devido principalmente à maior concentração em ácidos, açúcares e pectinas, entre outros (sais minerais e vitaminas), que as características de solo, de clima e saber fazer da região induzem. Em segundo lugar, as qualidades relacionadas com a segurança alimentar, que o modelo de produção e certificação adoptados lhe permite. Em terceiro lugar, a qualidade externa, através de uma epiderme resistente, rica e exuberante pelo diferente colorido das principais variedades", responde o presidente da APMA.

Questionado se o consumidor nacional conhece as características deste produto, sublinha que "após o lançamento deste nosso produto certificado, das diferentes acções de divulgação e degustação, dos diferentes testes a que tem sido sujeito e dos inúmeros pontos de venda e compradores que têm aderido, verifica-se um verdadeiro reconhecimento das características do nosso produto, expresso no crescimento do consumo. Além da fidelização que se verifica por parte dos consumidores, existe um indicador constante da importância do nosso trabalho, que são as inúmeras pessoas nos chegam com a reclamação de que não encontram ainda a maçã de Alcobaça que lhe recomendaram, na sua loja de bairro, na praça ou no supermercado que frequentam".

Ao contrário de outros produtos agrícolas não há ajudas directas à produção da maçã de Alcobaça, à excepção de uma pequena compensação por hectare, pelo facto destes produtores terem aderido totalmente às medidas agro-ambientais, implementando técnicas de produção ecológicas, com fortes preocupações ambientais no sentido de contribuírem para uma fruticultura sustentável. O grande apoio vem sem dúvida do facto de se terem agrupado através das suas organizações de produtores e obterem daí toda a orientação técnico-científica, formação profissional, sentido de bem fazer, assim como beneficiarem dos diferentes serviços desde a recepção da maçã, conservação, processamento, comercialização, retorno justo do valor do produto, tranquilidade face ao escoamento (drama para muitos outros), até à maior capacidade para empreenderem novos projectos.

A produção associada é praticamente toda escoada. Da quantidade produzida, espera-se que sejam certificadas cerca de 5 mil toneladas (cerca de 35 milhões de maçãs), embora se pudessem certificar próximo de 10 mil toneladas. Uma parte vai para a indústria, outra parte corresponde a frutos de segunda categoria e outra a calibres não aceites (muito grandes ou muito pequenos).

Existem ainda algumas dificuldades para impor no mercado a maçã de Alcobaça. "O hábito fácil que se enraizou por todo o país de importar maçãs em condições fraudulentas, não sujeitas à normalização, sem qualidade (sabor), por esses factos a preços baixos e muitas vezes chegando ao consumidor com a sua origem adulterada, são uma concorrência desleal e uma traição permitida a quem teima em preservar a actividade, contribui para a economia regional, empreende e gera trabalho. O problema é mais grave quando se sabe que estas importações a que me refiro, pela natureza do percurso comercial que seguem, entram clandestinamente no nosso país e são comercializadas em total evasão fiscal, ao contrário do que acontece com as nossas organizações", lamenta Jorge Soares.

Francisco Gomes, In "Repórter Digital"

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