"Sobre a fundação da igreja da Benedicta conta-se a seguinte lenda:
Em tempo distante, a aldeia da igreja da Benedicta era um pequeno lugarejo, cujos fogos estavam divididos em três freguesias: Turquel, Alvorninha e Santa Catarina; estas duas últimas do concelho de Caldas da Rainha; aquela integrada no concelho de Alcobaça. O lugar não tinha templo onde o povo pudesse orar e, por isso, os habitantes resolveram mandar fazer uma capela que ficaria sob o patrocínio de nossa Senhora da Encarnação. Reuniram-se, quotizaram-se, e mandaram fazer a capela no centro do lugarejo, no local onde hoje se ergue um cruzeiro.
Foi a obra dada de empreitada a um homem de apelido Aleixo, residente no casal dos Solões, e deu-se começo à capela, mas todas as manhãs apareciam as paredes aluídas e erguidas no lugar onde hoje está a pequena igreja (esta igreja já não existe), mas aumentadas sempre de mais um cunhal. Começava a circular entre o povo a versão de que era um milagre. Nossa Senhora não queria a capela no centro do lugar, mas sim onde todas as manhãs apareciam os materiais. Uns, eram crentes no milagre, outros, não, sendo o mais obstinado contraditor do milagre o próprio empreiteiro.
Perto do local, há uma fonte, e o aludido Aleixo, que tinha uma fazenda contígua, costumava mandar duas filhitas buscar água à fonte. Um ia, as pequenas vão encher os cântaros, e Nossa Senhora, envolta em branca nuvem, desce até ao pé da pequenita mais nova, envolvendo-a de forma a ocultá-la aos olhos da irmã e revela-lhe que transmita ao pai os seus desejos de que a capela seja feita no sitio onde eram encontrados os materiais. A pequena, de volta a casa, conta ao pai o sucedido. Interrogada a mais velhita, que nada vira, negou a Aparição e a mais novinha é admoestada pela suposta mentira.
No dia seguinte, vai o homem lavrar para perto da fonte e as petizas voltam uma vez mais à água. Nova Aparição da Senhora à mais nova, e, de novo lhe recomenda que diga ao pai para lhe fazer a capela no sítio onde Ela pretendia. A criança diz à Virgem que o pai está descrente. Nossa Senhora, para o convencer, faz-lhe anunciar pela filha que um boi lhe irá cair repentinamente morto no rego da lavrada, o que sucede, mal acabou a pequenita de transmitir ao pai esta previsão sinistra.
Cheio de temor, o homem ordena então filha que torne à fonte e que peça à Senhora que lhe reanime o boi que ele lhe faria a capela no lugar onde Ela queria.
A pequena vai: Nossa Senhora, sorrindo, disse-lhe que fosse descansada que já iria encontrar o boi a trabalhar. Assim sucedeu.
O empreiteiro cumpriu a palavra, a igreja foi erguida onde hoje se encontra (esta igreja já não existe ) e a fonte, onde a Senhora havia aparecido , ficou a chamar-se a Fonte da Senhora".
In "Tempo Imemorial - Benedita e a sua história ", 1980, de José Luís Machado, que por sua vez foi transcrito de uma artigo de Guilherme Felgueiras, inserto no "Boletim cultural - Junta Distrital de Lisboa", 1967, série III, nºs 67/68 pág. 300/301, e com título "O Estudo da Literatura Popular e das Tradições Orais Estremenhas - Lendas da fundação da Igreja da Benedita"
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