sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Ribeira do Vale do Mogo

O Vale da Ribeira do Mogo, mais uma das candidaturas de Alcobaça às 7 Maravilhas Naturais de Portugal.
O Vale da Ribeira do Mogo afunilado e sinuoso revela a graça das formações calcárias e de uma natureza vegetal que com elas se consocia. Este vale aprazível relativamente intocado é visitável a partir das localidades de Chiqueda ou do Carvalhal de Aljubarrota.


As vertentes e o corpo do vale enfeitam-se de alguns carvalhos, zambujeiros, pinheiros mansos e silvestres. O medronheiro e o carrasco dominam nos altos e nas ribanceiras revelando a depreciação da antiga mata de carvalhos tão dizimada pelas artes e labores dos homens (derrotes para construções e lenhas, corte de matos para as terras e pastorícia, o que tanto facilitou e potenciou a erosão). Nas terras férteis do vale ou em socalcos rasgados e sustentados por muros de pedra insonsa o homem chanta oliveiras e semeia cereais e leguminosas.

A ocupação humana do vale conduz-nos à pré-história. Foi nesta área que Manuel Vieira Natividade, em finais do século XIX, realizou várias campanhas arqueológicas, nomeadamente nas três grutas das Calatras, levantando um espólio lítico e cerâmico significativo do período neolítico que se encontra até hoje à espera de conhecer a luz do dia.


Cister também se interessou por este espaço. Junto à nascente do Alcoa e em plena Granja de Chiqueda (baptizada significativamente de Jardim), os “monges agrónomos” edificaram um complexo industrial com moinho de rodízio de quatro pedras e um lagar de azeite com seis varas, três caldeiras e engenho hidráulico. Um pouco a montante, nas imediações do Poço Suão, foi levantado, na década de trinta do século XVIII, um grande forno de cal que custou ao Mosteiro mais de 80.000 réis, cuja cal parda era utilizada como argamassa para dar solidez às edificações monásticas. Realce-se ainda o reservatório conhecido por mãe-de-água que por um prodígio de engenharia hidráulica abastecia de água potável o Mosteiro.

A espiritualidade não está arredada deste espaço. O Poço Suão, boca de uma eventual teia de algares e sumidouros que troando jorra abruptamente água nos Invernos mais rigorosos alagando o vale, testemunha a oferta cíclica do ramo da espiga que bem pode ser interpretada como uma súplica aos elementos maternos (terra e água) para que assistam a frutificação.

Por toda esta sorte de enunciados o Vale da Ribeira do Mogo merece ser conhecido e protegido. Na esteira de Carlos Mendonça que tanto se tem batido para qualificar este vale e dotá-lo de um centro de interpretação podemos afirmar o seu espaço como uma maravilha.

António Valério Maduro
Via JERO

Infelizmente, a preservação do vale não é feita da melhor forma e já há algum tempo havia sido dado o alerta através do TOJU:

Comecei a andar muito novo por estes vales e cabeços nunca mais deixei de o fazer. Sei bem como toda esta área de beleza natural era tratada, com a maioria destas parcelas de terreno agricultadas. Conheci o olival da Lapa onde hoje é o campo de futebol e da estrada do Carvalhal para a Ataíja de Baixo estar por alcatroar.
Com o abandono da agricultura dá-se inicio a uma nova etapa, a dos maus tratos ambientais.
Actualmente a única actividade humana que se pratica é o abate intenso do Carvalho da Oliveira e do Pinheiro.
(...)
O Vale Abaixo por exemplo, tem como herança à alguns anos da pedreira, uma máquina de grande porte tendo dentro do leito do ribeiro duas rodas e o eixo. Mais grave, atendendo que a máquina caiu no vale devido a falha humana, é a grande quantidade de pneus e tambores de óleo penso que vazios, que só podem ter sido atirados de forma propositada.


É pena que a entidade responsável, que pode por travão nestes atentados ambientais, se mantenha de olhos fechados. E que não repare que toda esta área de rara beleza natural, que já devia ser uma reserva natural, está cada vez mais poluída, desbastada e doente.


Não estará na altura de dar mais um pouco de atenção a tão importante património? E fica aqui um desafio, porque não a criação do Parque Natural da Ribeira do Vale do Mogo?! Numa altura em que se fala tanto do Eco-Turismo, em que as pessoas estão cada vez mais despertas para a preservação e acompanhamento destes espaços, penso que faria sentido algum investimento.
Porque não um caminho pedonal com paineis informativos sobre fauna e flora? Informações sobre a arqueologia no local? Actividades ecológicas? Um cyber-museu na Internet?

Fica o desafio, de algo que se pode fazer com tão pouco...

3 comentários:

João Videira Santos disse...

Como Lisboeta, apaixonado por Alcobaça em cujos arredores passo os meus fins de semana, saúdo e existência deste blog e a informação que ele proporciona. Abraço

Alcobacense disse...

Muito obrigado João pelas simpáticas palavras de agradecimento.
O blogue Terra de Paixão estará sempre ao dispor de todos os amantes da nossa bela Alcobaça.
Um abraço,
Mário Bernardes

Unknown disse...

Vale mesmo a pena conhecer este Vale... que serve de corredor ecológico entre a Serra e o Mar...