"Nunca quisemos que o disco fosse uma ruptura com o passado"
Os três rapazes de Alcobaça estão de regresso aos discos. Falamos dos Loto e do recente «Beat Riot». Gravado e produzido no estúdio 101, a banda considera-o "muito mais orgânico" por oposição ao «The Club», que estava ligado à "noite e às pistas de dança". O álbum foi gravado entre a Costa Nova, Alcobaça e Manchester e conta com as participações de dois grandes nomes da pop mundial: Peter Hook e Del Marquis.
Depois de em 2004 terem lançado o álbum «The Club», os Loto regressam este ano aos originais. «Beat Riot» representa a continuidade ou uma nova etapa?
Representa tanto uma continuidade como uma nova etapa. Nunca quisemos que o disco fosse uma ruptura com o passado. Queríamos uma continuidade, mas com um ambiente novo. Com «Beat Riot» conseguimos marcar uma certa diferença em relação ao anterior, que era mais focalizado na noite, nas pistas de dança. Este é um álbum muito mais aberto, mais orgânico. Neste álbum, a guitarra é preponderante. Esta necessidade surgiu através dos concertos. Está mais perto de um live act dos Loto do que propriamente um álbum de estúdio.
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The Gift, Samuel Jerônimo e Spartak são algumas das bandas que nasceram em Alcobaça. É uma coincidência ou a cidade tem particularidades que permitem o florescer de novos projectos musicais?
Alcobaça sempre teve uma grande tradição a nível musical. Além das bandas, existem músicos profissionais, como o Rubem Santos que toca trombone e é um dos melhores a nível nacional. Existem grupos de jazz e bares onde se tocam esses diferentes géneros musicais. É uma cidade que se mexe muito em termos culturais. E se calhar por causa disso os jovens têm mais facilidade em conseguir passar da garagem ou do sótão, que foi o nosso caso, para o palco. Para além do gosto pela música, é necessário, também, a determinação. O facto de estarmos em Alcobaça, que não é Lisboa ou Porto, há uns anos atrás fazia diferença. E as pessoas se quisessem aparecer tinham mesmo de fazer por isso.
E qual o significado, em termos musicais, da expressão «madbaça»?
Acho que até foi aqui neste palco [Fnac de Santa Catarina] que se criou esse mito. Foi uma expressão utilizada por um jornalista para caracterizar o movimento de Alcobaça, que além de nós incluía os Gift, uma série de fotógrafos e realizadores. Ou seja, serviu para explicar o movimento que havia, mas nunca foi uma bandeira. O importante é a união das bandas que existem. Mas não existe uma marca registrada «madbaça» [risos].
«Beat Riot» foi gravado entre Alcobaça, Costa Nova e Manchester. De que forma é que o álbum transmite a passagem por estes lugares?
Faz-se música a partir do contexto em que se vive. Na Costa Nova estivemos numa daquelas casinhas às riscas perto da praia e serviu muito como arranque. Perceber o que se queria fazer e ter a concentração necessária para realizar o que se pretendia. Alcobaça é a nossa realidade, o nosso estúdio, onde se processou grande parte do álbum. E, depois, Manchester acabou por ser a possibilidade de trabalhar com um produtor. A importância, também, de concretizar alguns sonhos como ter o Peter Hook ou a participação de um coro gospel. Além de ser uma oportunidade para conhecer pessoas, tomar contacto com perspectivas novas.
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Que podemos esperar dos Loto nos próximos dois anos?
Tocar em Taiwan [risos]. Em Portugal é muito difícil fazer planos a longo prazo. Enquanto banda, vivemos muito o dia a dia. Traçamos objectivos curtos e imediatos. Queremos que os portugueses nos conheçam, mas não que pare aí. Já deve ter ouvido outras bandas dizerem isso [risos], mas acreditamos muito nisto. E vamos trabalhar imenso para que isso aconteça lá fora. As dificuldades não nos impedirão de concretizar este sonho. O «The Club» talvez não fosse o álbum para dar esse salto, por isso mais do que fazer um ou dois concertos no estrangeiro temos de criar uma impressão nesse público.
[Entrevista completa, no Primeiro de Janeiro]
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