sábado, 12 de fevereiro de 2005

Vende-se! Assim não, obrigado!

Vasco Gomes, comerciante Alcobacense teceu mais uma vez duras críticas à obra de requalificação do centro histórico de Alcobaça.
Para Vasco Gomes, as obras são já as grandes responsáveis do encerramento de alguns estabelecimentos comerciais na zona. Bom, o que é certo é que o comércio em Alcobaça está em decadência há largos anos e as responsabilidades continuam a saltar de causa em causa. Ora é culpa da CMA que não promove eventos, ora é a falta de estacionamento, ora é a falta de subsídios, ora é a polícia que multa os carros mal estacionados, ora é o Modelo, etc., etc., etc.. Agora é a requalificação urbana.
No fundo, existem provas dadas que a crise do comércio poderá não estar ligada a estas causas. Já dei aqui no blogue vários exemplos de sucesso em cidades vizinhas com as mesmas preocupações. Então os Alcobacenses não podem andar 300m para ir às compras em Alcobaça e podem andar mais de o dobro na cidade das Caldas onde se deslocam cada vez com mais regularidade? O centro histórico de Tomar está vedado ao trânsito numa área bastante maior que a zona do Rossio em Alcobaça e o comércio tem-se mantido de boa saúde. Não, não precisamos de autocarros movidos a hidrogénio nem de serviços de transporte de compras. As pessoas andam bem mais noutras paragens.
Então quais as causas desta degradação? _ As pessoas continuam a consumir e são obrigadas a comprar. Se não o fazem em Alcobaça e o fazem nas Caldas ou em Leiria só é necessário perceber porquê. A resposta é muito simples.
O comércio em Alcobaça estagnou algures nos anos 80 e nunca mais foi alvo de investimento, de evolução e progresso. Nunca se soube adaptar às novas realidades de mercado e isso foi repelindo os clientes. Um exemplo, hoje as pessoas vestem na Zara, na Mango e nas grandes marcas. Em Alcobaça não existe escolha neste segmento e ainda se vêem montras com o mesmo estilo dos anos 70 e 80. Para piorar, chego-me a arrepiar com a cara de alguns comerciantes que parece estarem a fazer um grande favor aos clientes.
Este Natal foi flagrante, de todas as pessoas com quem falei, a opinião foi unânime. "Andámos às compras em Alcobaça, mas não encontrámos nada de bom gosto. Tivemos de ir às Caldas e a Lisboa." As pessoas tentaram. Até andaram por Alcobaça e pelo seu centro sem estacionamento e em obras, mas estava tão mau que tiveram de se deslocar 30 Km e mais. O comércio está antiquado e inadaptado.
Há também a questão das mentalidades. O comerciante típico Alcobacense não tem visão de futuro e tem falta de bases de gestão. Será que alguém acredita que a "Rosata" encerrou devido às obras? Um estabelecimento com boa clientela? Claro que não, e não tentem enganar os mais desprevenidos.
Também muito importante, e referido também pelo Vasco é o facto de os jovens formados Alcobacenses não investirem na cidade e não voltarem. Vontade não falta, mas existe um factor muito importante que inviabiliza qualquer projecto. O preço do aluguer de qualquer estabelecimento comercial em Alcobaça está hiper-inflacionado. Qualquer negócio não será rentável quando se cobram rendas ao nível de cidades como Leiria e mesmo Lisboa. É muito triste, mas os proprietários Alcobacenses e a sua ganância preferem ver um estabelecimento fechado a ser alugado por um preço mais em conta. Isto prova que a crise ainda não afecta muita gente. Posso dar o meu exemplo pessoal, que tentei abrir um estabelecimento em Alcobaça, da área de vestuário e o preço das rendas que encontrei desmotivou-me por completo. Conslusão, Alcobaça não, obrigado!
Podem-se ir atirando culpas a tudo e a todos, mas enquanto não se olhar com coragem para o cerne da questão nunca nada se irá resolver.
As obras são incómodas e por si só não melhorarão a vida dos Alcobacenses, mas se forem bem aproveitadas por todos poderão ser usadas como um estímulo para a economia local. O mercado do turismo está muito competitivo e os nossos vizinhos espanhóis não brincam nessa área. Temos de fazer frente com as nossas cidades e os nossos monumentos sob pena de ficarmos invisíveis aos olhos do mundo do turismo, e isso não se conseguirá com os ambientes degradados que tínhamos e ainda temos infelizmente.

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