segunda-feira, 4 de junho de 2007

A Linha do Oeste, o TGV e o Aeroporto da Ota

Um artigo publicado por Mário Lopes muito interessante sobre os projectos da Linha do Oeste, o TGV e o Aeroporto da Ota. No entanto não posso concordar com alguns pontos focados no artigo.

Sobre os comboios convencionais, é referida a sua baixa rentabilidade e competitividade face aos concorrentes. É um facto que isso acontece, mas não pelos factos apresentados, como a comodidade e velocidade mas sim pela degradada rede ferroviária esquecida nas últimas décadas. O comboio caíu em desuso por ser muito pouco prático e porque não se foi adaptando à realidade das regiões. Os traçados mantiveram-se e muitas vezes as próprias auto-motoras também, como no caso da linha do Oeste. Ao contrário dos nossos parceiros europeus, em Portugal perdeu-se a cultura do comboio. Não porque sejamos diferentes, mas porque investimos muito numa rede viária e pouco ou nada na rede ferroviária.

O combóio pode ser um meio de transporte muito mais cómodo que os automóveis ou autocarros dada a liberdade conferida aos passageiros. Um condutor de um automóvel não pode aproveitar o tempo de viagem para nada, a não ser para estar atento à condução. Num combóio pode-se fazer tudo, desde ler, estudar, conversar e até trabalhar, com uma rentabilização do tempo muito mais eficaz.
É um meio de transporte nada sujeito a congestionamentos e por isso pode garantir horários e tempos de viagem.
Por outro lado, a utilização do combóio não está sujeita apenas aos passageiros, mas sim também a mercadorias e essa deveria ser a sua principal atenção. Em Portugal é incrível a quantidade de camiões a circular nas estradas. Isso acarreta imensas despesas com a manutenção das mesmas, dado que são estes veículos a principal causa da sua degradação. Isto sem falar na sinistralidade associada ao excesso deste tipo de veículos nas estradas.

Com a crise dos combustíveis, espera-se também uma gradual afirmação do transporte ferroviário. Os consecutivos aumentos nos preços dos combustíveis começam a relegar para segundo plano a opção da viatura própria. E não nos esqueçamos que dentro de algumas décadas os combustíveis fósseis estarão definitivamente esgotados.

Especialistas apontam os combóios como o meio de transporte do futuro e constatamos realmente que para lá caminhamos.

O T.G.V. partilha da mesma filosofia, mas para viagens de muito longa distância e entre meios urbanos de grande dimensão. Não faz, por exemplo sentido o investimento neste tipo de infra-estrutura entre Lisboa e Porto e muito menos entre Lisboa e cidades como Leiria ou Coimbra, quando existe já uma opção de viagem que utiliza a linha convencional e atinge velocidades superiores a 200Km/h, como o combóio Pendular. T.G.V sim, quando faz sentido no caso de Lisboa - Madrid. Não como meio de transporte regional num país pequeno como Portugal.

Em relação à Ota, partilho do mesmo princípio do Mário Lopes, da defesa do interesse nacional em deterimento da "defesa dos interesses da região". No entanto o meu ponto de vista é precisamento o oposto.

Pensando nos interesses nacionais, nunca poderemos optar pela solução com um custo várias vezes superior ao das concorrentes. O custo da Ota é exorbitante dada a complexidade da obra. É referido que não há alternativa mas não há nada mais errado. Existem mais do que uma alternativa e muito mais válidas. Não são comprometidas pelo impacto ambiental como se faz crer, dado que as possibilidades mais a sul estão bem longe do estuário do Tejo e fora da rota das aves migratórias.

A opção da Ota localiza-se a cerca de 50Km de Lisboa, a capital do país e principal alvo. A grande Lisboa vais ser a principal fonte de passageiros do novo Aeroporto. As restantes opções estão a cerca de metade da distância.

Se nas hipóteses a Sul se considera a implicação da construção de raiz de infra-estruturas pesadas e a deslocalização de dezenas de milhar de pessoas e empresas, o que não dizer da Ota que é bem mais longe?

E os acessos? O acesso a norte, a A1 é uma das entradas/saídas mais congestionadas de Lisboa e sem qualquer possibilidade de alargamento. As entradas/saídas ferroviárias também. No único corredor ferroviário para norte, passam todas as linhas de acesso ao norte do país, ao interior, Espanha e ainda a linha sub-urbana da Azambuja. O corredor possui uma linha quádrupla também sem hipóteses de alargamente e perto da capacidade máxima. Onde passará então o combóio rápido de ligação entre o centro de Lisboa e o novo aeroporto?
A sul, a A12 é uma auto-estrada bastante desafogada. A nova ponte Chelas - Barreiro beneficiará o sul de mais um excelente acesso ferroviário.

Falando do ministro, uma pessoa num lugar de extrema importância como o seu jamais se poderá referir a uma zona do país como "um deserto". Mesmo que fosse. Na margem sul vivem e trabalham centenas de milhares de pessoas, não só na zona ribeirinha mas também em toda a faixa costeira e mais a sul no eixo Quinta do Conde - Palmela - Setúbal. E a Ota? Que infra-estruturas possui melhores que as do Sul? Onde estão as escolas, hospitais, hotéis?
Foi de facto uma afirmação infeliz, talvez não suficiente para julgar o ministro mas que ao juntar com tantas outras possa ter algum peso. Tenho bem presente uma entrevista concedida a um canal de televisão em que o ministro não conseguiu responder a nenhuma das dúvidas sobre os projectos da Ota e T.G.V., dúvidas essas fundamentais para o sucesso de ambos os projectos.

Infelizmente para todos o ministro Mário Lino é uma mancha no desempenho do nosso governo. Pior é mesmo a actuação da oposição, que neste caso é triste e nada coerente. Muitas falhas à volta de projectos tão importantes para o país.

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