quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

TGV, Lutas, Guerras e Oportunismos

Já foi aqui assumida a posição do TP em relação à passagem do TGV por terras Alcobacenses. No fundo, muito mais do que a questão do traçado, o que está em causa é mesmo a própria construção da linha Lisboa - Porto. Não é que não seja importante para o desenvolvimento a longo prazo do país, mas a curto prazo, e dadas as condições económicas de Portugal e mesmo da Europa, existem outras prioridades que deveriam ter mais atenção.

Eu não sou especialista em transportes, e por isso não posso afirmar que o projecto será ou não rentável e é ou não importante para o país. No entanto a área dos transportes sempre foi alvo de um grande interesse da minha parte o que me levou desde cedo a acompanhar e estudar de perto algumas soluções, e a observar com mais atenção o seu funcionamento em Portugal e noutros países do mundo.

Actualmente, a linha do norte começa a atingir níveis de tráfego bastante elevados e que geram algumas preocupações sobre níveis futuros de saturação. O transporte ferroviário de longo curso tem vindo a crescer acompanhando os investimentos feitos pela REFER e CP ao nível da oferta de serviços e qualidade. Esta tendência será crescente nos próximos anos motivada pela subida vertiginosa do preço dos combustíveis que afectará o transporte automóvel e mesmo o aéreo. Está também prevista a entrada de taxas para as companhias aéreas em função das emissões poluentes num futuro talvez não muito longínquo. Esta medida agravará bastante o preço das viagens e a alternativa, cairá principalmente no meio ferroviário.
Posto isto, surgem duas alternativas, ou a construção de uma estrutura paralela como o governo deseja, mais rápida e mais moderna, ou a melhoria da linha existente através de melhoramentos no trajecto e até mesmo quadruplicação de alguns troços (hoje duplicados).
É aqui que se poder criar alguma discussão. De facto, e para o futuro a primeira opção é a melhor. No entanto, e dado o cenário actual a segunda é mais coerente numa visão a curto prazo.

O Oeste, como região de forte crescimento populacional tem também sido bastante esquecido em termos de investimentos nesta área. A Linha do Oeste está ao abandono e há muito que deixou de ser opção para todos. A melhoria da rede viária criou uma forte concorrência que aniquilou por completo a utilização do comboio. Claro está que no futuro teremos problemas graves, pois não há alternativa à dependência do petróleo.

Uma das grandes vantagens do transporte ferroviário é a independência total em termos energéticos de um qualquer tipo de combustível. Os comboios movem-se a electricidade (não no caso da linha do Oeste, por enquanto) que poderá ser gerada a partir de inúmeros tipos de fontes. Isto dá alguma versatilidade e não será necessário alterar a tecnologia de locomoção. A outra grande vantagem é a dos baixos níveis de poluição gerados.

Com bastante menos investimento, teríamos também uma linha do Oeste bem mais funcional. Seria interessante uma ligação à linha do norte na zona de Leiria e a articulação com as várias zonas industriais existentes.
Recentemente a C.M. de Rio Maior tornou público o interesse em recuperar a antiga linha que ligava a cidade a Santarém. Propuseram também uma extensão à cidade das Caldas da Rainha para assim criarem um eixo entre as duas linhas (Norte e Oeste) e o serviço às populações e indústrias intermédias. A ideia é também ela interessante e talvez bem mais útil à região.

Outro ponto fulcral do projecto é o traçado, e que mais polémica tem gerado entre as populações. A Este ou Oeste da Serra dos Candeeiros, junto ou afastado das malhas urbanas.
Em termos racionais e de rentabilidade, o melhor seria a sua passagem a Oeste da Serra, onde na realidade vive a maioria da população. No entanto, essa mesma densidade demográfica associada ao mau planeamento urbano das últimas décadas acaba por dificultar esta possibilidade. Será difícil encontrar um corredor que permita esta passagem nos dias que correm.

A melhor solução, e caso a opção seja feita pela zona Oeste, é quanto a mim a zona do sopé da serra onde não existem habitações. Será mais fácil manter a via à mesma cota e evitar-se-ão os desvios de certos obstáculos.
Esta opção não tem sequer sido equacionada pelo nosso município que vê assim afectada a Zona Industrial da Quinta da Serra na Benedita e orgulho do nosso presidente. No entanto este impacto pode ser diminuído através da construção de um túnel no interior da ZI, cuja extensão não é assim tão significativa.

A falta de consideração por este corredor, associada a algum alarmismo criado pela C.M. de Alcobaça gerou uma corrente de protesto junto dos Alcobacenses que estão descontentes com as restantes possibilidades e com os prejuízos que lhes possam ser causados. Para piorar criou-se bastante ruído e alguma desinformação talvez por quem, à custa desta situação pretenda algum protagonismo e veja o assunto apenas como uma guerra política.
A falta de apoio deste blogue aos movimentos Anti-TGV criados deriva dessa mesma desconfiança. Não se consegue vislumbrar um verdadeiro movimento devidamente esclarecido e com força suficiente para debater os assuntos fulcrais deste projecto. Num dos lados temos um movimento que se assume como neutro em termos partidários e que fala em nome do povo, mas cujos argumentos são pobres e pouco claros. Esta é uma guerra forte e é necessário estar-se preparado. Do outro lado alguém ligado ao principal partido da oposição bastante empenhado numa luta que ainda não sabemos se é sua em particular ou em representação dos seus conterrâneos. Para mim salta à vista a sua fraca eficácia como suporte de grupo e o seu ar de forte alavanca pessoal. Não conheço o fundador do movimento e até posso estar a julgar mal, mas a leitura do blogue é isso que sugere. Demasiado político e escrito em nome pessoal.

Recapitulando, o projecto do TGV será importante para o país mas não nos tempos que correm. Ainda assim, e como não sou especialista em transportes não posso negar a sua viabilidade. Seria interessante que fosse feita uma sessão de esclarecimento com vários especialistas e que de uma vez por todas se acabasse com esta especulação e com todo este ruído que está a ser injectado na população. Para sabermos do que estamos a falar e qual a posição a tomar devemos estar conscientes da verdadeira realidade e dos planos que se pretendem implementar.

O futuro passa pelo transporte ferroviário e não se pode negar a sua importância.

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