sexta-feira, 25 de julho de 2008

A Introdução da Ferrovia em Alcobaça

O Caminho de Ferro em Alcobaça
A presença de caminho-de-ferro no concelho de Alcobaça resume-se à Linha do Oeste, que atravessa a zona litoral do concelho desde S. Martinho do Porto a sul até Pataias/Martingança a norte. Trata-se de uma linha de via única, não electrificada e de traçado muito pouco funcional, dada a data da sua construção, ainda em pleno séc. XIX. Não obstante ao esquecimento a que foi votada, a linha foi sobrevivendo mas sempre muito abaixo do seu verdadeiro potencial. De facto, um dos grandes obstáculos é sem dúvida o seu traçado, que dada a altura da sua construção, se encontra completamente desajustado das necessidades actuais. Na região de Alcobaça, a linha do Oeste fica longe dos principais centros urbanos, longe da sua área de abrangência e longe dos seus principais pólos industriais.
Com a concorrência do transporte rodoviário, a linha foi perdendo sucessivamente prestígio e toda a sua viabilidade. Este novo concorrente, ganha forte vantagem na proximidade que pode ter das populações e indústrias. No entanto, com a crise dos combustíveis que se vive e com o impacto que poderá ter no futuro, o uso do transporte ferroviário volta a estar na ordem do dia, volta a ser equacionado e até finalmente considerado como a hipótese de futuro no sector dos transportes. Isto, porque o comboio apresenta uma grande vantagem, é completamente independente de qualquer tipo energético específico, ou seja, o comboio é movido a electricidade que pode ser obtida tanto dos combustíveis fósseis, como das renováveis e até nuclear. Qualquer que seja a evolução no sector energético, não há necessidade de qualquer alteração, de qualquer investimento e adaptação deste tipo de meio de transporte.

Posto isto, começa a ser importante uma nova abordagem ao transporte ferroviário e o reinvestimento quer nas linhas existentes, através da sua melhoria e adaptação às necessidades actuais, quer em futuras linhas que complementem o serviço prestado pelas que já existem. Actualmente já se caminha nesse sentido e foram já anunciados investimentos importantes como a electrificação e melhoria da Linha do Oeste e a recuperação da antiga Linha Setil/Santarém - Rio Maior, com um novo prolongamento até às Caldas da Rainha. Para o concelho de Alcobaça, mantemos a mesma desactualizada linha do Oeste e talvez a polémica construção da linha de Alta Velocidade que não trará benefícios directos para o concelho.

Equacionada há algum tempo atrás foi a construção de um outro troço de ligação entre a Linha do Oeste, mais a norte (entre Valado de Frades e Pataias), e Rio Maior, para continuação depois até à linha do Norte. Esta hipótese, ao que parece não vingou, pois não aparece mencionada no PROT-OTV, Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo, actualmente em discussão (http://consulta-protovt.inescporto.pt), nem sequer o lançamento de qualquer estudo sobre a sua viabilidade.

Esta não consideração obviamente que é muito negativa para Alcobaça e o seu concelho e contribuirá mais uma vez para o seu isolamento/afastamento dos restantes centros urbanos. Resta agora que seja feita alguma pressão tanto pelos nossos governantes locais como até mesmo pela população que se deverá unir em prol deste factor de centralidade. A nova linha Pataias - Rio Maior, que poderemos apelidar de Linha Oeste Interior poderá ter um grande potencial e um impacto muito significativo em toda a região, e não só Alcobaça.

Seguidamente será apresentada uma ideia mais detalhada sobre a possível Linha Oeste Interior.

Linha do Oeste Interior
O panorama actual do transporte ferroviário na zona de Alcobaça resume-se à antiga Linha do Oeste. Pode-se considerar também o futuro atravessamento pela linha de Alta Velocidade que, a ser uma realidade, esperamos que o seja o mais próximo possível do sopé da Serra dos Candeeiros.



Assumindo a recuperação/construção da Linha Setil/Santarém - Rio Maior - Caldas da Rainha e a instalação de duas interfaces na linha de AV em Leiria e Rio Maior, cria-se uma interligação importante entre estas três linhas mas que denota uma visível lacuna, tanto ao nível da operacionalidade como do possível universo de utentes que poderá servir.

Considerando também as zonas industriais de toda a região, facilmente se constata que existe um corredor central que ficará alheio a todo este sistema.
De realçar que a Zona Industrial do Casal da Areia, mesmo estando próxima da Linha do Oeste, não possui qualquer interligação com a mesma.



Assim, e por forma a colmatar esta deficiente cobertura em termos de serviço seria de elevado potencial a criação de uma ligação entre a Linha do Oeste na zona de Pataias e Rio Maior, servindo a Zona Industrial do Casal da Areia, as localidades de Maiorga, Alcobaça, Turquel e Benedita e a futura ALE da Benedita.

Em termos locais seria beneficiado o acesso às duas maiores zonas industriais do concelho, a Z.I. do Casal da Areia e a futura ALE Benedita e a algumas das nossas localidades de maior número de habitantes.



Em termos globais o impacto seria bastante mais forte sendo facilitadas as ligações da zona oeste norte à zona sul, com ligação depois à Linha do Norte ( seguindo a nova linha Rio Maior - Setil/Santarém ), interligação de algumas das mais importantes zonas industriais, como a Marinha Grande, Pataias, Casal da Areia, ALE Benedita e Rio Maior, possibilidade de ligação destas zonas industriais à futura plataforma logística do Poçeirão e Novo Aeroporto de Lisboa, melhoria também das ligações a norte, com a previsão da ligação entre a Linha do Oeste em Leiria e a Linha do Norte em Pombal, e a união de alguns dos centros urbanos mais importantes da zona centro, como Santarém, Rio Maior, Benedita, Alcobaça, Marinha Grande e Leiria.

Dada a cada vez maior importância do tempo de viagem como factor de escolha de um determinado meio de transporte, através desta nova linha seria facilitado o acesso das cidades de Leira e Marinha Grande à Linha do Norte ( direcção a sul ) com uma significativa poupança do tempo de viagem através de uma ligação bastante mais directa.

O levantamento de todos os pontos positivos e negativos desta infra-estrutura é apresentado na seguinte tabela de valorização:



A nova linha teria início em Rio Maior, na grande interface de ligação entre a Rede de Alta Velocidade, a Linha Setil/Santarém - Caldas da Rainha e a Linha Oeste Interior. Rumo a norte, poderia utilizar o mesmo corredor da linha de AV no atravessamento da Serra dos Candeeiros e assim reduzir os custos de construção no local de orografia mais complicada.

De modo a tornar esta opção o mais atractiva e funcional possível, terá de haver o cuidado de construir todas as estações de passageiros o mais próximo possível do centro das localidades. Isto leva a uma muito maior independência do transporte automóvel e encurta também o tempo dispendido em viagem.



A Benedita possuiria duas estações, uma na entrada da ALE Benedita, de passageiros/interface para mercadorias e outra no centro da vila exclusiva a passageiros.



A próxima estação, seria em Turquel, também com o cuidado de a aproximar o mais possível do centro da localidade. A Ligação entre a Benedita e Turquel não requer grande investimento dado que se trata de uma zona relativamente plana.



A partir de Turquel, e em direcção a Alcobaça há que ter em conta alguns cuidados, pois s orografia torna-se bastante mais instável. O ideal seria servir também a sede de freguesia Évora de Alcobaça, mas uma passagem por esta localidade aumentaria substancialmente os custos de construção da linha. O ideal será a continuação da linha sempre pela zona mais plana, e menos povoada, até à zona entre as localidades de Carris e Fonte Santa. Aí rumará aos Capuchos e posteriormente a Alcobaça.



Em Alcobaça, sede do concelho, a passagem da linha ferroviária torna-se mais complicada dada a maior densidade de construções e também o facto de a cidade ocupar a quase totalidade do vale onde se encontra. A construção de uma estação exactamente no centro também não é viável.



A única opção é a da construção da estação de passageiros na rua de Leiria, junto à nova rotunda com a VCI e aproveitar o actual corredor ainda vago a oeste do Bairro da Quinta da Roda, onde se encontra um antigo concessionário automóvel, e onde futuramente será também feita uma ligação entre a VCI e o futuro IC9. A linha contornará a urbanização Nova Alcobaça e será elevada sobre o rio Alcoa e a Rua de Leiria, podendo a própria estação ser também elevada.
A norte de Alcobaça surge de novo uma zona de construção mais difícil com a existência de várias e significativas elevações. Existe ainda assim um pequeno corredor que poderá ser utilizado e que dá acesso a um vale na zona da Maiorga. Seguindo pelo vale entra-se de nova em zona plana e de maior facilidade de construção.



O troço final entre a Maiorga e a Linha do Oeste, passando pela Zona Industrial do Casal da Areia, é todo ele numa zona completamente plana. A ligação à linha do Oeste poderá ser feita através de dois ramais, um para norte e outro para sul com ligação à estação do Valado de Frades.
A Zona Industrial do Casal da Areia será também contemplada com uma estação mista de passageiros/interface de mercadorias.



Um prolongamento a estudar será depois a continuação da linha entre o Valado de Frades e a Nazaré, com possibilidade de transporte de passageiros a este importante centro turístico de veraneio, e também a ligação à futura zona industrial da Nazaré.



No total são apenas cerca de 35Km ( +10Km incluindo a extensão à Nazaré ) de nova linha ferroviária mas com um impacto muito significativa na vida das populações. Trata-se de um universo de mais de 200.000 pessoas e onde a taxa de utilização poderá ser bastante elevada. Não esquecer que a cidade de Leiria fornece uma fatia significativa do número de empregos da região em questão. O acesso directo a todas as grandes zonas industriais e aos principais centros urbanos é também apelativo e funcional. Acrescendo o valor turístico da região, há mesmo que acreditar que a construção da Linha Oeste Interior poderá ser a alavanca para o desenvolvimento de uma região que tem sido sucessivamente esquecida e ultrapassada, e cujo potencial está bastante subaproveitado.

Paralelamente poderão ser equacionadas outras hipóteses e outros estudos, como por exemplo o lançamento de um projecto-piloto de aproveitamento de energia eólica da Serra dos Candeeiros para alimentação de todo este sistema. Com facilidade se criará um sistema de transportes rentável e auto-sustentado que poderá mesmo servir de objecto de estudo para futuras aplicações.

Também disponível em: http://www.alcobaca.com/comboio/
Versão para download (.pdf)

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