Não têm conta as inúmeras promessas do PS e do PSD para a modernização da linha do Oeste, logo esquecidas quando um dos partidos chega ao governo. As discussões em torno deste tema, os ataques da oposição e o silêncio e desculpas esfarrapadas da situação já fazem parte desde há décadas do folclore político do bloco central oestino.
Com a morte da Ota parece que surge uma ténue luz ao fundo do túnel para que a modernização da linha do Oeste seja embrulhada no pacote de contrapartidas do governo para a região. Ainda assim, não surpreenderia que esta obra ficasse mais uma vez adiada pois as promessas já foram tantas...
Importa, contudo, saber que tipo de modernização é que se pretende? Qual o tipo de linha férrea que deverá servir o Oeste no século XXI e qual o tipo de serviços que esta deve prestar?
Muitos autarcas e responsáveis políticos clamam o chavão da "modernização, duplicação, electrificação" sem cuidar de saber o que tal significa. A maioria, de resto, não faz tenções de viajar de comboio nem acredita que nada possa ser mais prático do que o seu automóvel na A8 a caminho de Lisboa.
E têm alguma razão.
O projecto que a Refer tem em mãos e que em breve será entregue ao Ministério das Obras Públicas e Transportes não prevê a electrificação da linha do Oeste. O documento é basicamente o que o vice-presidente daquela empresa defendeu no Congresso do Oeste, em Alcobaça, no ano passado - limita-se à introduzir sinalização automática na linha para aumentar a fluidez do tráfego e remete para a CP maiores responsabilidades na redução do tempo de recurso através de comboios novos.
É certo que há hoje material a diesel mais eficiente do que há 20 anos quando se falava na modernização das linhas férreas. Mas com ou sem electrificação, não é com o actual traçado que a linha do Oeste pode servir a região. Ir de comboio para Lisboa pela Malveira e pelo Cacém é uma volta demasiado grande que jamais poderá competir com a auto-estrada que chega à capital através de Loures.
A modernização que está prevista poderá reduzir o tempo de percurso entre as Caldas e Lisboa das actuais duas horas para uma hora e meia. Mas nunca será competitiva com a auto-estrada.
Nem mesmo com comboios modernos e confortáveis, o modo ferroviário poderá competir com o rodoviário neste eixo porque, embora possa ganhar algum mercado, as pessoas valorizam o tempo e a A8 continuará a ser a melhor alternativa.
Só uma solução que encurte a distância para Lisboa poderá fazer da linha do Oeste essa alternativa para o século XXI.
Por isso, os oestinos devem exigir uma nova linha em diagonal que, a partir do Bombarral chegue ao Carregado, ou da Malveira chegue à estação do Oriente (que terá também o TGV), a fim de colocar o Oeste em linha recta com Lisboa (e já agora o aeroporto de Alcochete).
Os preços do combustível e o pagamento da emissão de CO2, as questões ambientais, o congestionamento das redes viárias (que sempre se procura resolver construindo mais estradas), os acidentes rodoviários, aí estão para mostrar que o caminho-de-ferro é o transporte deste século. Mas não é com uma modernização do séc. XX que a linha do Oeste responderá às necessidades do séc. XXI.
In Gazeta das Caldas
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário