sábado, 29 de setembro de 2007
O Mosteiro de Alcobaça, a Sua Ocupação e/ou Missão
No seguimento de um artigo escrito por Gérard Leroux e publicado no jornal "O Alcoa" de 14/09, que se pode ler também aqui no conterrâneo Do Portugal Profundo, voltou a ser discutida a ocupação do nosso Mosteiro. Gérard Leroux alerta que qualquer ocupação daquele espaço deverá ter em conta os fins para que ele foi construído, num âmbito mais espiritual e contemplativo. Refere ainda que "qualquer aproveitamento do Mosteiro para fins lucrativos, empresariais, comerciais, lúdicos ou turísticos, afigura-se-me indigno de Alcobaça, indigno do lugar privilegiado que Alcobaça ocupa na história da Nação e da Igreja. Constituiria mesmo, ouso dizê-lo, uma nova profanação".
No fundo, o artigo defende um regresso ao passado através da instalação de uma nova ordem cistercience, do retorno dos monges, peregrinos e simpatizantes.
Esta seria para mim talvez uma das melhores soluções. O Mosteiro de Alcobaça como mosteiro, como um espaço entregue ao seu propósito e à sua missão.
Tenho no entanto algumas dúvidas, num sentido mais prático desta opção. Necessitariam os monges de todo aquele infindável espaço? Seria essa ocupação total ou parcial? Estariam aptos a garantir a manutenção de todo aquela área?
É aqui que a opção do hotel ganha alguma vantagem. Haveria algum retorno e a segurança de que todo o edifício seria mantido longe da ruína e do desleixo. Não necessariamente através da ocupação dos espaços comuns e públicos como aqui se diz. Um hotel no Mosteiro não necessitaria deste tipo de invasão, pois espaço é coisa que não falta. Nem mesmo o asilo que por lá funcionou o fez.
Há também a hipótese do restabelecimento do ensino superior e do regresso do Colégio de Nossa Senhora da Conceição, aí criado em 1648 numa tentativa de manter a antiga tradição de ensino. Esta hipótese poderia funcionar paralelamente e até mesmo inserida nas actividades deste futuro mosteiro. O dito colégio poderia ser, como já se pensou, uma extensão à Universidade de Coimbra.
Aqui, sou bastante céptico, confesso, e estou em desacordo. Assistimos hoje em dia ao encerrar de universidades em Portugal e não há necessidade de mais instituições deste tipo. Além do mais, que cursos seriam leccionados em Alcobaça? De "filosofias" está o mercado cheio, e o Hiper Modelo já não tem assim tantas vagas...
Em suma, o regresso às origens e a instalação do hotel são hipóteses muito distintas e com argumentos diferentes. Se por um lado a mais interessante das soluções tornaria o Mosteiro de Alcobaça no espaço para o qual foi idealizado, mas sem grandes vantagens para a população, pelo outro a perspectiva do hotel torna-se economicamente mais viável, tanto para o Mosteiro como para os Alcobacenses. Eu, ressalvando algumas das minhas dúvidas, aprecio a primeira hipótese, apesar de saber que Alcobaça precisa mais da segunda.
A vida de Alcobaça precisa de estímulos, precisa de pessoas, de turistas, de novos hábitos e novas ofertas. Precisa de empregos, de uma alavanca para a economia local. Ao contrário do que alguns dizem, a morte do comércio não se deve ao projecto de requalificação do centro histórico que mais não fez do que devolver a cidade às pessoas. A decadência do comércio local começou há muitos anos, quando o emprego e as pessoas se foram embora e levaram consigo o poder de compra. Quando os jovens Alcobacenses saíram para estudar e não mais voltaram. Quando as pequenas empresas fecharam e não foram compensadas.
Gérard Leroux tem razão. Gonçalves Sapinho também poderá ter alguma. É preciso ainda assim ouvir a Igreja e saber qual o interesse da mesma. É preciso ouvir os Alcobacenses e saber o que lhes vai na alma. Se pretendem uma ocupação mais virada para um mundo espiritual com ligação forte à cultura e ao saber, ou se optam pelas vantagens económicas que daí poderão advir. Não é difícil adivinhar para que lado tende o pêndulo, O Cine-Teatro continua vazio nos dias de grandes espectáculos...
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